05 maio 2015
04 maio 2015
28 abril 2015
20 março 2015
Um Criança Chora - Rubem Alves
Mesmo com o avanço da idade e do eminente
amadurecimento, mora em nós uma criança que vive com seus medos e angústias. E
que, por vezes, nos faz derramar lágrimas.
Minha alma tem estado a visitar a minha infância. Fantasias. O que são fantasias? As fantasias de infância são as memórias transfiguradas pela saudade. Eu poderia colocar minhas fantasias de infância em álbuns diferentes, como se fossem fotografias. Fantasias dos pequenos espaços (a cabaninha, a casa no alto da árvore), as fantasias dos grandes espaços (os campos, os jardins), as fantasias da noite com seus terrores...
Minha alma tem estado a visitar a minha infância. Fantasias. O que são fantasias? As fantasias de infância são as memórias transfiguradas pela saudade. Eu poderia colocar minhas fantasias de infância em álbuns diferentes, como se fossem fotografias. Fantasias dos pequenos espaços (a cabaninha, a casa no alto da árvore), as fantasias dos grandes espaços (os campos, os jardins), as fantasias da noite com seus terrores...
Antigamente... essa palavra me intrigava.
Ouvia que os grandes em suas visitas noturnas a usavam com frequência. E eu
perguntava: “Quando é antigamente?” Nunca me explicaram. Mas agora eu sei
quando é antigamente. Pois antigamente os grandes gostavam de fazer sofrer as
crianças. Acho que eles pensavam que as crianças não tinham o “lá dentro” onde
mora o sofrimento.
Os
grandes me faziam sofrer e riam do meu sofrimento. Mentiam para me fazer
sofrer. Eu devia ter uns quatro anos, na roça. Perto da casa havia uma mata
fechada. Por medo, eu nunca me aproximei dela. Diziam que lá moravam onças. E
os grandes me diziam que naquela mata fechada morava um menino. E, para
provarem, diziam: “Quer ver?” E gritavam: “Ô menino!” O grito batia na mata e
voltava como eco bem fraco: “Ô menino...” Mas eu nada sabia sobre ecos. Sim,
era a voz fraca de um menino abandonado. Que pais o teriam deixado lá? E por
que ele ficava lá?
E a imagem daquele menino não me deixava. De
noite, na minha cama, eu me lembrava dele sozinho no escuro. Como eu desejava
poder trazê-lo para a segurança da minha casa! Mas eu nada podia fazer. E assim
dormia, sofrendo o abandono do menino. Nunca vi o dito menino, porque ele não
existia. Mas a alma não sabe o que é isso, o não existir. Aquilo que é sentido
existe. A alma é um lugar assombrado onde moram as mais estranhas criaturas
que, sem existirem, existem.
Lembro-me de que, numa dessas noites, eu
chorava baixinho. Chorava de angústia. Minha mãe ouviu o meu choro e veio
assentar-se ao meu lado para saber o que me fazia sofrer.
Expus-lhe, então, a minha aflição: “Mãe,
quando eu crescer, como é que vou fazer para arranjar uma mulher?”, “Mãe,
quando eu crescer como é que vou fazer para ganhar a vida?”
Quem tomar essas perguntas no seu literalismo
se rirá delas. Não é engraçado que problemas tão distantes façam uma criança
chorar? Mas o seu sentido não se encontra na letra. Ele se encontra no não
dito, na noite escura de onde surgiram, noite da minha alma, aquela noite
quando seria inútil chamar por pai ou por mãe, porque não haveria ninguém para
ouvir. Naquela noite eu chorava pela minha solidão, pelo abandono que me
esperava, quando eu seria como o menino da mata.
O
menino abandona- do não me abandonou. Entrou dentro de mim e mora comigo. Me
faz sofrer. Me dá ternura. Sempre que vejo uma criança abandonada, eu sofro.
Quereria poder protegê-la, cuidar dela. Eu me enterneço porque a criança
abandonada que mora em mim está sofrendo. Afinal, todos somos crianças
abandonadas. Nos momentos de solidão noturna, de insônia, tomamos consciência
de que estamos destinados ao abandono, àquele tempo quando será inútil chamar
“meu pai” ou “minha mãe”. É assim que me sinto, às vezes. Tenho, então, vontade
de chorar...
14 março 2015
28 fevereiro 2015
Apenas mais uma de amor - Lulu Santos
Eu gosto tanto de você
Que até prefiro esconder
Deixo assim ficar
Subentendido
Como uma ideia que existe na cabeça
E não tem a menor obrigação de acontecer
...
Se amanhã não for nada disso
Caberá só a mim esquecer
O que eu ganho, o que eu perco
Ninguém precisa saber
Que até prefiro esconder
Deixo assim ficar
Subentendido
Como uma ideia que existe na cabeça
E não tem a menor obrigação de acontecer
...
Se amanhã não for nada disso
Caberá só a mim esquecer
O que eu ganho, o que eu perco
Ninguém precisa saber
24 fevereiro 2015
14 fevereiro 2015
08 fevereiro 2015
04 fevereiro 2015
31 janeiro 2015
Non, je ne regrette rien.
Non, rien de rien...
Non, je ne regrette rien...
Non, je ne regrette rien...
Somos nosso passado em ato. E, como na célebre canção "Non, je ne regrette rien" [Não me arrependo de nada] , uma vez que tudo me precede me leva a ser aquele que sou hoje perante vocês e perante mim mesmo. Numa palavra, somos nosso passado atualizado, o que digo, somos nosso inconsciente atualizado; um inconsciente que não está atrás de nós mas dentro de nós, recolhido no aqui e agora do ato que marca o que acabamos de executar. Quando Édith Piaf canta "Non, rien de rien, je ne regrette rien" [Não me arrependo absolutamente de nada], não é uma neurótica que se lamenta e gostaria de reconstruir seu passado. Ao contrário, é um sujeito orgulhoso de seu passado, ainda que tenha sido às vezes tempestuoso, um sujeito em consonância consigo mesmo e, para resumir, em paz com o próprio consciente.
J. - D. NASIO in Por que repetimos os mesmos erros - 2013 - Ed. Zahar
26 janeiro 2015
23 janeiro 2015
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