06 dezembro 2013

R.I.P. Nelson Mandela (1918 - 2013)

De uma carta para Winnie Mandela, escrita na prisão de Kroonstad, datada de 1º de fevereiro de 1975.

...a cela é um lugar ideal para aprendermos a nos conhecer, para se vasculhar realística e regularmente os processos da mente e dos sentimentos. Ao avaliarmos nosso progresso como indivíduos, tendemos a nos concentrar em fatores externos , como posição social, influência e popularidade, riqueza e nível de instrução. Certamente são dados importantes para se medir o sucesso nas questões materiais, e é perfeitamente compreensível que tantas pessoas se esforcem tanto para obter todos eles. Mas fatores internos são ainda mais decisivos no julgamento do nosso desenvolvimento como seres humanos. Honestidade, sinceridade, simplicidade, humildade, generosidade pura, ausência de vaidade, disposição para ajudar os outros - qualidades facilmente alcançáveis por todo indivíduo - são os fundamentos da vida espiritual. 
O desenvolvimento de questões dessa natureza é inconcebível sem uma séria introspecção, sem o conhecimento de nós mesmos, de nossas fraquezas e nossos erros. Pelo menos - ainda que seja a única vantagem - a cela de uma prisão nos dá a oportunidade de examinarmos diariamente toda a nossa conduta, de superarmos o mal e desenvolvermos o que há de bom em nós. A meditação diária, de uns 15 minutos antes de nos levantarmos, é muito produtiva nesse aspecto. A princípio, pode ser difícil identificar os aspectos negativos em sua vida, mas a décima tentativa pode trazer valiosas recompensas. 

Do livro Nelson Mandela - Conversas que Tive Comigo.

Cemitério da Recoleta

                                

05 dezembro 2013

sujeito indireto - Leminski

Quem dera eu achasse um jeito
de fazer tudo perfeito,
feito a coisa fosse o projeto
e tudo já nascesse satisfeito.
Quem dera eu visse o outro lado, 
o lado de lá, lado do meio,
onde o triângulo é quadrado
e o torto parece direito.
Quem dera um ângulo reto.
Já começo a ficar cheio
de não saber quando eu falto,
de ser, mim, indireto sujeito.

27 novembro 2013



Há momentos em que as palavras se tornam supérfluas.
Momentos mágicos que transbordam afetos.




10 novembro 2013

"Ninguém pode sofrer influência daquilo que lhe é estranho, que lhe é alheio. Você só vai se influenciar por uma coisa que você já tem dentro de si e que, talvez, você não soubesse que ia se revelar."
(Thomas Mann)

08 novembro 2013

18 setembro 2013

Quando me amei de verdade - Kim Mcmillen

Quando me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato.
E,então, pude relaxar.
Hoje sei que isso tem nome...Auto-estima.

Quando me amei de verdade, pude perceber que a minha angústia, meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou indo contra as minhas verdades.
Hoje sei que isso é...Autenticidade.

Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento.
Hoje chamo isso de...Amadurecimento.

Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém, apenas para realizar aquilo que se deseja, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo.
Hoje sei que o nome disso é...Respeito.

Quando me amei de verdade, comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável. Isto quer dizer: pessoas, tarefas, crenças, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo.
De início, minha razão chamou isso de egoísmo.
Hoje sei que se chama...Amor-próprio.

Quando me amei de verdade, deixei de temer meu tempo livre e desisti de fazer grandes planos, abandonei os projetos megalômanos de futuro.
Hoje faço o que acho certo, o que eu gosto, quando quero e no meu próprio ritmo.
Hoje sei que isso é...Simplicidade

Quando me amei de verdade, desisti de querer ter sempre razão e, com isso, errei muito menos.
Descobri a...Humildade.

Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de me preocupar com o futuro.
Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece.
Hoje vivo um dia de cada vez.
Isso é...Plenitude.

Quando me amei de verdade, percebi que a minha mente pode me atormentar e me decepcionar.
Mas quando eu a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e valiosa ajuda.
Isso é...Saber viver.


Paranoia - Renata Udler Cromberg (querida e excepcional professora da pós).



16 agosto 2013

Parada Cardíaca - Paulo Leminski

Essa minha secura
essa falta de sentimento
não tem ninguém que segure
vem de dentro

Vem da zona escura
donde vem o que sinto 
sinto muito
sentir é muito lento

09 agosto 2013

Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da baixa - Fernando Pessoa

 Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa 
Aquele homem mal vestido, pedinte por profissão que se lhe vê na cara, 
Que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele; 
E reciprocamente, num gesto largo, transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha 
(Exceto, naturalmente, o que estava na algibeira onde trago mais dinheiro: 
Não sou parvo nem romancista russo, aplicado, 
E romantismo, sim, mas devagar...).

Sinto uma simpatia por essa gente toda, 
Sobretudo quando não merece simpatia. 
Sim, eu sou também vadio e pedinte, 
E sou-o também por minha culpa. 
Ser vadio e pedinte não é ser vadio e pedinte: 
E' estar ao lado da escala social, 
E' não ser adaptável  às normas da vida, 
'As normas reais ou sentimentais da vida - 
Não ser Juiz do Supremo, empregado certo, prostituta, 
Não ser pobre a valer, operário explorado, 
Não ser doente de uma doença incurável, 
Não ser sedento da justiça, ou capitão de cavalaria, 
Não ser, enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistas 
Que se fartam de letras porque tem razão para chorar lagrimas, 
E se revoltam contra a vida social porque tem razão para isso supor.

Não: tudo menos ter razão! 
Tudo menos importar-se com a humanidade! 
Tudo menos ceder ao humanitarismo! 
De que serve uma sensação se ha uma razão exterior a ela?

Sim, ser vadio e pedinte, como eu sou, 
Não é ser vadio e pedinte, o que é corrente: 
E' ser isolado na alma, e isso é que é ser vadio, 
E' ter que pedir aos dias que passem, e nos deixem, e isso é que é ser pedinte.

Tudo o mais é estúpido como um Dostoiewski ou um Gorki. 
Tudo o mais é ter fome ou não ter o que vestir. 
E, mesmo que isso aconteça, isso acontece a tanta gente 
Que nem vale a pena ter pena da gente a quem isso acontece.

Sou vadio e pedinte a valer, isto é, no sentido translato, 
E estou-me rebolando numa grande caridade por mim.

Coitado do Álvaro de Campos! 
Tão isolado na vida! Tão deprimido nas sensações! 
Coitado dele, enfiado na poltrona da sua melancolia! 
Coitado dele, que com lagrimas (autenticas) nos olhos, 
Deu hoje, num gesto largo, liberal e moscovita, 
Tudo quanto tinha, na algibeira em que tinha olhos tristes por profissão

Coitado do Álvaro de Campos, com quem ninguém se importa! 
Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!

E, sim, coitado dele! 
Mais coitado dele que de muitos que são vadios e vadiam, 
Que são pedintes e pedem, 
Porque a alma humana é um abismo.

Eu é que sei. Coitado dele! 
Que bom poder-me revoltar num comício dentro de minha alma!

Mas até nem parvo sou! 
Nem tenho a defesa de poder ter opiniões sociais. 
Não tenho, mesmo, defesa nenhuma: sou lúcido.

Não me queiram converter a convicção: sou lúcido!

Já disse: sou lúcido. 
Nada de estéticas com coração: sou lúcido. 
Merda! Sou lúcido.

04 agosto 2013

20 julho 2013

Seis Séculos de Pintura Chinesa - Pinacoteca




     A falésia vermelha, entre 1490 e 1559
     When  Zhengming (1470- 1559)
     nanquim e cores sobre papel  

Inscrição e assinatura: No décimo sexto dia da sétima lua do ano Renxu [1082], fui em um barco com alguns companheiros ao pé da falésia vermelha. Um vento fresco soprava levemente e não levantava nenhuma onda. Ergui minha caneca para convidar meus amigos a beber e recitei um poema no qual uma lua brilhava, era uma canção muito bonita. Pouco depois, a lua subiu no alto da montanha do leste; ela hesitava entre a grande Ursa e a estrela do Boieiro. Um orvalho branco recobria o rio e o brilho da água se juntava ao céu. Não sabíamos onde estávamos, mas tínhamos a impressão de voar como se abandonássemos o mundo humano, como se asas tivessem nascido em nós, e subíamos, como se fôssemos imortais.
Começamos então a beber e fomos contagiados por uma grande felicidade. Cantávamos ao longo do barco, entoando o ritmo. Nossa música dizia: “Revestimento de caneleira, ramas de magnólia. Atravessamos uma água clara e transparente e subimos a brilhante correnteza. Meus pensamentos partem para longe e meu olhar se voltam para uma linda mulher que se encontra num pedaço do céu”. Um de nossos companheiros tocava gaita para nós. Sua música melodiosa também tinha um pouco de rancor e de ressentimento; dir-se-ia que ele chorava e se lamentava; e o som prosseguia como um fio que se estende sem se romper.
Talvez ele fizesse dançar um dragão escondido no fundo das grutas sombrias e fizesse chorar uma viúva sozinha no barco solitário. Fiquei muito triste com aquilo e, arrumando meu casaco e endireitando-me em meu lugar, perguntei ao músico: “Por que essa melodia?”. E ele me respondeu: “A lua brilha, as estrelas são raras, as gralhas voam para o sul: não estariam aí os versos de Cao Cao? Se olhamos em direção ao oeste, vemos Xiakou, em direção ao leste, Wuchang; montanhas e rio se juntam em um lúgubre verde escuro; não seria aqui que Cao Cao fora derrotado por Zhou Yu? Ele havia capturado Jingzhou e descido o rio até Jiangling. Seus barcos, que seguiam a correnteza em direção ao leste, espalhavam-se em mil léguas, e seus estandartes escondiam a vista do véu. Ele se serviu de vinho, aproximou-se do rio e, segurando uma alabarda, compôs esse poema. Certamente, ele foi o herói de toda uma geração, mas onde ele se encontra hoje? Ou, ainda, o que vai acontecer com vocês, comigo, pescadores e lenhadores à beira do rio, conosco, que temos peixes e camarões como companheiros, a corça e o cervo como amigos, que prosseguimos em um esquife parecido a uma folha, que erguemos cantis e canecas convidando-nos uns aos outros a beber? Fomos enviados ao universo como seres efêmeros e mariposas, grãos de arroz no oceano. Fico triste com o breve destino de minha vida, invejo o infinito do longo do rio, queria voar seguindo os imortais, enlaçar a lua e durar o mesmo tempo que ela. Mas sei que isso é impossível, e confio minha melodia ao triste vento”.
Eu respondi: “Você também conhece a água e a lua? Elas passam como essa correnteza, mas nunca vão embora. O cheio e o vazio são como elas, e finalmente, não existe morte nem continuação. Se pensarmos no que de nós mesmos se transforma no universo, nada permanece, nem mesmo o tempo de um piscar de olhos; e se considerarmos o que continua sem se transformar, então tudo é infinito, inclusive eu. O que devemos invejar então? Além disso, no mundo, cada coisa tem um mestre. Se alguma coisa não me pertence, não posso segurá-la. Mas a brisa sobre o rio, a lua sobre as montanhas que meus sentidos transformam em som e em cores, nada me impede que eu absorva essas coisas, e posso aproveitar isso infinitamente. É um tesouro imensurável da criação, este de que eu e você podemos gozar juntos.”
Todos os meus companheiros puseram-se a rir. Tínhamos lavado as canecas e voltamos a beber; quando terminamos a carne e as frutas, as taças e o pratos estavam desarrumados. Servindo-nos todos de travesseiros, dormimos no barco sem nos darmos conta de que o leste embranquecia.
Escrito por Zhengming, no ano Renzi [1552]


25 junho 2013

O Crepúsculo da Noite - Charles Baudelaire

O dia acaba. Uma grande paz surge nos pobres espíritos fatigados pelo trabalho da jornada e seus pensamentos tomam agora as cores ternas e indecisas do crepúsculo.
Entretanto, do alto da montanha chega à minha sacada, através das nuvens transparentes da tarde, um grande uivo, composto por uma multidão de gritos discordantes que o espaço transforma em lúgubre harmonia, como a da maré que sobe ou a ameaça de uma tempestade.
Quem são os desditosos que a tarde não acalma e que tomam, como as corujas, a chegada da noite como um sinal do sabá? Esta sinistra ululação nos chega do negro hospício empoleirado sobre a montanha; e à tarde, fumando e contemplando o repouso do imenso vale, arrepiado de casas onde cada janela diz: “A paz agora está aqui, está aqui a alegria da família”, eu posso, quando o vento sopra do alto, embalar meus pensamentos assombrados por essa imitação das harmonias do inferno.
O crepúsculo excita os loucos. Lembro-me que tinha dois amigos que o crepúsculo tornava doentes. Um passou a desconhecer todas as relações de amizade e de polidez, e maltratava, como um selvagem, o primeiro que aparecesse. ‘Vi-o jogar na cabeça de um maître de hotel um excelente frango, em que ele via não sei qual hieróglifo insultante. A noite, precursora de profundas volúpias, para ele estragava as coisas mais suculentas!
O outro, um ambicioso frustrado, tornava-se, à medida que o dia baixava, mais azedo, mais sombrio, mais impertinente. Indulgente e sociável durante o dia, ficava impiedoso à noite, e exercia, raivosamente, suas manias crepusculares não somente em relação aos outros, mas, também, consigo próprio.
O primeiro morreu louco, incapaz de reconhecer sua mulher e o filho; o segundo leva em si a inquietude de um mal-estar perpétuo, e mesmo se fosse gratificado com todas as honras que possam conferir as repúblicas e os príncipes, creio que o crepúsculo acenderia ainda nele o ardente desejo de receber distinções imaginárias. À noite, que introduzia trevas em seu espírito, iluminava o meu, e, ainda que seja raro ver-se a mesma causa engendrar dois efeitos contrários, deixa-me sempre como que intrigado e alarmado.
Ó noite! Ó refrescantes trevas! Vós sois para mim o sinal de uma festa interior, vós sois a redenção de uma angústia! Na solidão das planícies, nos labirintos pedregosos de uma capital, a cintilação das estrelas, a explosão das lanternas, vós sois o fogo de artifício da deusa Liberdade!
Crepúsculo, como sois doce e terno! Os clarões róseos que se arrastam ainda no horizonte, como a agonia do dia sob a opressão vitoriosa da sua noite, os fogos dos candelabros que criam manchas de um vermelho opaco sobre as últimas glórias do poente, os pesados cortinados que uma mão invisível atrai das profundezas do Oriente, imitam todos os sentimentos complicados que lutam no coração do homem nas horas solenes de sua vida.
Dir-se-ia, ainda, uma dessas vestes estranhas de dançarinas, onde uma gaze transparente e sombria deixa entrever os esplendores amortecidos de uma saia deslumbrante, como sob o negro presente transparece o delicioso passado; e as estrelas vacilantes, de ouro e prata, dos quais é semeada, representam estes fogos da fantasia que só se iluminam bem sob o luto fechado da Noite.

14 junho 2013

Au Revoir Les Enfants - Louis Malle (1987)

Você praça Acho graça
Você prédio Acho tédio

( Escrito que li em dois lugares em SP - na esquina da Cardoso de Almeida com a Homem de Melo e na Heitor Penteado, não lembro em que altura).

09 junho 2013

"Não me deixe viver o que posso, que me seja permitido desaprender os limites".
(F. Carpinejar)


05 junho 2013

A vida é um mundo de possibilidades.
O mundo é uma vida de possibilidades.




La Pianiste - Michael Haneke (2002)


Os cães latem.
♫ ♫ ♫ ♫ ♫ ♫ ♫
Chocalham suas correntes.
♫ ♫ ♫ ♫ ♫ ♫ ♫ ♫ ♫ ♫ ♫ ♫
E as pessoas dormem. 
♫ ♫ ♫ ♫ ♫ ♫ ♫ ♫ ♫
Em suas camas.
♫ ♫ ♫ ♫ ♫



20 abril 2013

Riposi In Pace - TEDDY (o cãozinho mais amado do mundo)



(1997 - 2013)
                                                                    


Por que os cães não vivem tanto quanto os humanos?
As pessoas nascem para que possam aprender a ter uma vida boa, amar e serem boas, certo?
Bem, os cães já nascem sabendo como fazer isto, portanto, não precisam ficar aqui tanto tempo na Terra quanto os humanos. 

(desconheço o autor)

27 março 2013

Já me matei - Paulo Leminski

já me matei faz muito tempo
me matei quando o tempo era escasso
e o que havia entre o tempo e o espaço
era o de sempre
nunca mesmo o sempre passo

morrer faz bem à vista e ao baço
melhora o ritmo do pulso
e clareia a alma

morrer de vez em quando
é a única coisa que me acalma

10 fevereiro 2013

Casa Arrumada - Carlos Drummond de Andrade


                                            (Pintura: Romero Britto)   

Casa arrumada é assim:
Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação
e uma boa entrada de luz.
Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um cenário de novela.
Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas.
Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo:
Aqui tem vida.
Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de lugar.
Casa com vida tem fogão gasto pelo uso,
pelo abuso das refeições fartas,
que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.
Sofá sem mancha?
Tapete sem fio puxado?
Mesa sem marca de copo?
Tá na cara que é casa sem festa.
E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.
Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.
Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante, passaporte e vela de aniversário, tudo junto.
Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.
A que está sempre pronta pros amigos, filhos, netos, pros vizinhos.
E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca ou namora a qualquer hora do dia.
Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.
Arrume a sua casa todos os dias.
Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela.
E reconhecer nela o seu lugar.

29 janeiro 2013

E a Vida Passa - Cecília Meireles



Hoje me dei conta de que as
pessoas vivem a esperar por algo
E quando surge uma oportunidade
Se dizem confusas e despreparadas
Sentem que não merecem
Que o tempo certo ainda não chegou
E a vida passa
E os momentos se acumulam
como papéis sobre uma mesa
Estamos nos preparando para qualquer coisa
Mas ainda não aprendemos a viver
A arriscar por aquilo que queremos
A sentir aquilo que sonhamos
E assim adiamos nossas
vidas por tempo indeterminado
Até que a vida se encarregue
de decidir por nós mesmos
E percebemos o quanto perdemos
E o tanto que poderíamos ter evitado
Como somos tolos em nossos
pensamentos limitados
Em nossas emoções contidas
Em nossas ações determinadas
O ser humano se prende em si mesmo
Por medo e desconfiança
Vive como coisa
Num mundo de coisas
O tempo esperado é o agora
Sua consciência lhe direciona
Seus sentidos lhe alertam
E suas emoções não
mais são desprezadas
Antes que tudo acabe
É preciso fazer iniciar
Mesmo com dor e sofrimento
Antes arriscar do que apenas sonhar.