15 fevereiro 2011

A História de Hashiko



Todo ano em 8 de abril ocorre uma cerimônia solene na estação de trem de Shibuya, em Tóquio. São centenas de amantes de cães que se reúnem em homenagem à lealdade e devoção de Hachiko, fiel companheiro do Dr. Eisaburo Ueno, um professor da Universidade de Tóquio.

Mas, quem foi Hachiko? Que houve de tão extraordinário em sua vida para granjear a admiração e o respeito de tantos que assistem a tal reunião de caráter solene? O artigo intitulado "Velho e fiel cão espera pelo retorno do dono por dez anos", publicado na edição do Asahi Shinbun de 4 de outubro de 1933, lança luz sobre estas questões. O texto impresso fez um registro histórico de uma das mais bonitas, se não, a mais bela e ímpar história de lealdade, fidelidade e incondicional amor de um cão para com seu dono. De tão incrível que era a história contada nas entrelinhas do artigo que a atenção de todo o povo japonês se voltaria para ela; nada menos que o mundo acabaria se rendendo a tal registro épico.

Diga-se, de passagem, que a comovente história do Chu-ken Hachiko (o cachorro fiel Hachiko) rendeu um livro e um filme chamado "A História de Hachiko", mas, sobretudo, colaborou sobremaneira para que a reputação da raça se tornasse conhecida e famosa em todo o mundo, além de impulsionar um apaixonado movimento de restauração e preservação da raça Akita em seu país de origem, o Japão.

O nome do protagonista e aspirante ao estrelato da história contada pelo Asahi Shinbun, e que ficou conhecido em todo o mundo, era Hachiko, um cão branco da raça Akita; o coadjuvante, seu próprio dono, o Dr. Eisaburo Ueno. Pode-se dizer que a história toda teve seu início muito antes daquele 4 de outubro de 1933, data em que o artigo veio a público.

O "Era uma vez..." desta história teve seu ponto de partida em novembro de 1923, portanto, exatos dez anos antes. Naquele mês e ano nasceu Hachiko, na cidade de Odate, província de Akita.
Em 1924, Hachiko foi enviado a casa de seu futuro proprietário, o Dr. Eisaburo Ueno, um professor do Departamento Agrícola da Universidade de Tóquio. A história dá conta de que o professor ansiava por ter um Akita há anos, e que tão logo recebeu seu almejado cãozinho, deu-lhe o nome de Hachi, ao que depois passou a chamá-lo carinhosamente pelo diminutivo, Hachiko. Foi uma espécie de "amor à primeira vista", pois, desde então, se tornariam amigos inseparáveis.

 O professor Ueno morava em Shibuya, subúrbio de Tóquio, perto da estação de trem que levava (e que leva até os dias de hoje) o mesmo nome. Como fazia do trem seu meio de transporte diário até o local de trabalho, já era parte integrante da rotina de Hachiko acompanhar seu dono todas as manhãs. Caminhavam juntos o inteiro percurso que ia de casa à estação de Shibuya. Mas, ainda mais incrível era o fato de que Hachiko parecia ter um relógio interno, e sempre às 15 horas retornava à estação para encontrar o professor, que desembarcava do trem da tarde, para acompanhá-lo no percurso de volta a casa.

Entretanto, algo de trágico estava para acontecer no dia 21 de maio de 1925 — mal se sabia, mas, reescrevia-se ali um novo desfecho para a história. Hachiko, que na época tinha pouco menos de dois anos estava como de costume, pacientemente (e de rabinho abanando!) à espera de seu dono. Só que o professor Ueno não retornaria naquela tarde de 21 de maio; sofrera um derrame fatal na Universidade que o levara a óbito. Destarte, ainda que alheio da realidade, naquele dia o leal e fiel Akita esperou por seu dono até à madrugada. 

Após a morte do professor Eisaburo Ueno, conta a história que seus parentes e amigos passaram a tomar conta de Hachiko. Mas, tão forte e inexpugnável era o vínculo de afeto para com seu amado dono — lealdade, fidelidade e incondicional amor levados ao extremo —, que no dia seguinte à morte do professor ele retornou à estação para esperá-lo. Retornou todos os dias, manhã e tarde à mesma hora,na incansável esperança de reencontrá-lo, vê-lo despontar da estação de Shibuya. Às vezes, não retornava à casa por dias.

Foi assim dez anos seguidos repetindo a mesma rotina (quiçá, já não tão feliz), razão pela qual já era uma presença familiar e pitoresca para o povo que afluía à estação. E ainda que com o transcorrer dos anos já estivesse visivelmente debilitado em conseqüência de artrite, Hachiko não se indispunha a ir diária e religiosamente à estação. Nada nem ninguém o desencorajava de fazer sua peregrinação.

A história tem seu triste clímax em 8 de março de 1935, quando aos 11 anos e 4 meses, Hachiko é encontrado morto no mesmo lugar na estação onde por anos a fio esperou pacientemente por seu dono, onde durante dez anos se tinha mantido em vigília.
Hachiko, como não poderia deixar de ser, tornou-se um marco, um referencial de amizade talvez jamais igualável em qualquer era anterior ou futura na história. Sua descomunal lealdade e fidelidade receberam o reconhecimento de todo o Japão. Em 21 de abril de 1934, praticamente um ano antes de sua morte, uma pequena estátua de Hachiko, feita de bronze pelo famoso artista japonês Ando Teru, foi desvelada em sua honra numa cerimônia perto à entrada da estação de Shibuya, local onde morreu. Era a memória de Hachiko sendo imortalizada.

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