"Certa vez errei uma tecla do computador e em lugar de "perdas" saiu "peras". Eu ia corrigir, mas li de novo, achei muito mais bonito e deixei assim. Ninguém reclamou, nem os revisores... Dessa maneira acontecem mal-entendidos: amizades se perturbam, amores se rompem, pessoas se desencontram e magoam... Palavras esvoaçam como bilhetes, sinais de fumaça ou borboletas perdidas... Então nem sempre que alguém dizia "flor" o outro pensava "flor"? E podia entender "pedra"? Nada era simples. Para mim as palavras eram objetos mágicos, mas via que podiam ser traiçoeiros. Belos de olhar, mas duros, com arestas cortantes; caramelos de vários sabores que eu deixava rolar na boca com delícia, porém a gente podia se engasgar, até morrer. Não era só prazer a linguagem: peras, perdas, fazer falta, estar em falta ou sentir falta. Desacordo, desconserto. Ambivalentes como nós, palavras preparam armadilhas ou abrem portas de sedução. Embalam ou derrubam, enredam em doces laços, ou nos matam dolorosamente -- como punhais."
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